domingo, 5 de dezembro de 2010

Pesquisadores da Bioquímica decifram moléculas 'bem boladas' pela natureza

Pessoas que sofrem de hipertensão estão com a pressão arterial controlada graças a uma serpente bastante conhecida e temida no Brasil, a Bothrops jararaca. Foi um octapeptídio, proteína de baixo peso molecular do seu poderoso veneno, que serviu como modelo para a produção do Captopril, o medicamento hipotensor mais comercializado no mundo. “Esta proteína foi descoberta por um brasileiro, o professor Sergio Ferreira. A patente já venceu e hoje temos drogas similares, como as derivadas de enalapril e lisinopril, mas o modelo biológico é o mesmo”, afirma o professor Sérgio Marangoni, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. 

Neurotoximas são isoladas e analisadas por pesquisadores

Marangoni recorre a este exemplo para demonstrar onde se pode chegar com pesquisas básicas como as realizadas no Laboratório de Química de Proteínas (Laquip), que ele coordena. Ali, o objetivo é isolar e caracterizar as estruturas de proteínas de interesse farmacológico e fisiológico a partir de modelos biológicos. “A natureza nos oferece modelos prontos da maquinaria molecular que permitiu a manutenção e perpetuação de espécies animais e vegetais. Nós as chamamos de moléculas ‘bem boladas’”. 

Segundo o docente, os estudos no Laquip envolvem principalmente venenos de serpentes e também de escorpiões e aranhas. Há entre 2.500 e 3.000 espécies de serpentes conhecidas, sendo aproximadamente 15% venenosas. Estas injetam um coquetel de proteínas e enzimas responsáveis pela imobilização, morte e digestão da presa. “O veneno representa um processo molecular muito complexo. Se o camundongo pudesse correr após a picada, a serpente teria dificuldades para sobreviver”. 

Neurotoxinas, assim são denominadas as proteínas do veneno que atuam na transmissão nervosa muscular (sinapse), paralisando os músculos bulbares, oculares e respiratórios, o que resulta em morte da presa. “Trata-se de uma paralisia flácida, pois outras proteínas agem para amolecer e dissolver a carne; com a ação apenas das neurotoxinas, ela ficaria rija, dificultando sua deglutição pela serpente”.

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